Hoje tenho 54 anos, na época tinha 13. Me lembro até hoje daquela quinta-feira comum, calor absurdo do verão da minha cidade, correndo pra casa depois de uma manhã tediosa ouvindo professores falar sobre coisas que sinceramente, eu não me interesso. Minha barriga estava até suando, de tão necessitada de comida, abençoada seria a hora de chegar em casa, aquele cheirinho de carne, o barulinho da panela de pressão...hm...Ei, Vitória! Acorda pra realidade!
Avistei de longe o seu Osmar cochilando na cadeirinha de balanço como sempre, na sacada, o cigarrinho aceso ao lado, e uma xicriquinha de café mais do que preto. Ele vivia ali, e sempre quando eu voltava da padaria, perto das seis, fim de tarde, me chamava, pra contar uma história, era muito esperto, e me ensinava muitas coisas, era prazeroso ouvir seus contos.
Passei apressada pela frente da sua casa, a fome era tanta! E então ouvi um: Psiu! Vitória! Olhei pro lado, era ele. Todo querido, e falou baixinho: querida, tenho um conto sensacional pra lhe contar, mas deve de ser agora, por favor.
Eu atendi o seu pedido, pois deveria ser algo muito importante, ele nunca insistiu tanto, naquelas horas minha fome foi água abaixo.
Entrei. Fechamos aquele portão que fazia um barulho muito estridente e agudo. Sentei no chão e ele na cadeira de balanço e ele começou: ''Senti que era preciso falar com você agora, é uma história simples, mas se olhada por trás das entre linhas, você entenderã, pelo menos um dia de como ela é especial. Foi do meu avô, ele quando jovem ficou algum tempo no batalhão, mas ele era muito de farra, então saiu logo, depois se arrependeu pois sua renda poderia ter sido extraordinária alguns anos depois. Então, seguiu a carreira de publicitário, pintava muito bem, e jamais tinha feito algum curso, e havia estudado somente até a quarta série. Mas era um homem inteligente, e falava um inglês fluente, se casou duas vezes, teve quatro filhos, um com a primeira esposa, e outros três com a segunda, ele era muito idoso quando se casou pela segunda vez, e sua esposa, uma mulher bonita e jovial, beirava os 40, ele os 60'' (ouve uma pausa para pitar o cigarro)'' Faturava muito com seu trabalho, até que máquinas o substituíram, e ele não pode mas oferecer quase nada pra sua família, e a sua vida virou um verdadeiro inferno. Mas ele tinha sido muito famoso na cidade onde mora, todos, todos mesmo o conheciam, ele chegou a ser rico, mas nunca investiu pois era de festar e pensar apenas no hoje, entende?'' (respondi com a cabeça)'' E foi então que certo dia, ele estava caminhando, e ele passou por frente de três velhos amigos seus, que ele não via a muito tempo, e assim eles conversaram por alguns 15 minutos, e um deles o pergunto: cara o que se ta fazendo da vida? Meu avó por sua vez, teve que dizer 'nada', e contou resumidamente sua história, os amigos imprecionadamente tiveram que falar: não deixaremos essa situação te dominar, somos seus grandes amigos, poh! Meu avó seu emocionou, as lágrimas tiverão que descer sobre seu rosto, e eles combinaram que pagariam um curso técnico pro meu avó poder trabalhar novamente na sua área, mas com a tecnologia, claro. E depois de tudo isso ele voltou a brilhar na sua cidade, podendo oferecer coisas boas pra sua família.''
Me emocionei também com a história de seu Osmar, pequenas lágrimas sinceras apareceram na minha face. E ele voltou a dizer: Apenas queria que você soubesse de algumas coisinhas pequenas, que você saberá usar na hora certa, garotinha. Tudo o que conquistamos um dia, nunca se perde, sempre ficará no coração das pessoas boas que conquistamos, e que claro, devemos cultivar verdadeiras amizades, porque essas, nunca morrem.
Fui embora. No fim da tarde fui a padaria, mas seu Osmar não estava lá. Estranhei. De noitinha, minha mãe recebeu um telefonema, e ficou chocada, mas chocada, de cair o queixo, logo em seguida fiquei sabendo também, seu Osmar tinha falecido.
Tornei a desesperar me por dentro sem ação alguma por fora, e de repende, caíram seis lagrimas dos meus olhos, mas em seguida lembrei do episódio de hoje na hora do almoço e sorri aliviada, e pensei: ele cumpriu o que tinha que cumprir na terra.
Enfim, hoje posso dizer que ele estava certo, realmente precisaria daquilo que ele me dissera, até hoje lembro daquele velinho bondosa, jamais esquecerei dele.
-------------------------------------------------------------------------------------
Dedicada a uma pessoa que eu amo muito, ♥
Nenhum comentário:
Postar um comentário